Grupo de pesquisa participa de Congresso Internacional

Por Jefferson Zeferino, Marcela Davantel da Silva

As estudantes de Iniciação Científica do Grupo de Pesquisa “História das religiões e religiosidades” (PUC-Campinas) participaram do VI Congresso Internacional das Faculdades EST, realizado entre os dias 7 e 10 de outubro, cujo tema central foi “Religiões e Deslocamentos: Desafios para a Educação Teológica”. O evento teve como objetivos explorar as complexas interações entre religiões e os diversos tipos de deslocamentos que caracterizam o mundo contemporâneo, investigando como esses deslocamentos afetam as dinâmicas e práticas religiosas e impactam a educação teológica.

VI Congresso Internacional das Faculdades EST.

As comunicações orientadas pelo Prof. Dr. Jefferson Zeferino, como resultados parciais de pesquisas de Iniciação Científica, ocorreram no Salão de Pesquisas e no GT4: “Ideologias, Conservadorismos e Crise na Democracia Na Sociedade Contemporânea”, ambos no dia 8 de outubro. Ao total foram quatro apresentações realizadas pelas acadêmicas do curso de História da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

O grupo de trabalho “Ideologias, Conservadorismos e Crise na Democracia na Sociedade Contemporânea”, contou com a coordenação de Celso Gabatz, Marcelo Saldanha, Thiago Schellin de Mattos, Giorlando Laranjeira Barbosa, todos ligados às Faculdades EST, e de Jefferson Zeferino, professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. O GT é uma atividade organizada pelo grupo de pesquisa “Identidades e Sociabilidades Religiosas Contemporâneas”, liderado por Marcelo Ramos Saldanha e Celso Gabatz, pesquisadores com quem o Prof. Jefferson Zeferino tem colaborado já há alguns anos. Vale, nesse contexto, fazer menção aos artigos “As contribuições de Émile Durkheim para compreender a religião na contemporaneidade” (acesse aqui), publicado pela revista Correlatio, por Celso Gabatz e Jefferson Zeferino; e ao texto “Liberdade religiosa, fundamentalismos e controvérsias acerca da abertura de templos em meio a Pandemia do Covid-19 no Brasil”, publicado também por Gabatz e Zeferino na revista Estudos de Religião, em colaboração com Rogério de Carvalho Veras (UFMA) (acesse aqui).

Em sua descrição o grupo de trabalho indica os seguintes interesses e objetivos:

“Este Grupo de Trabalho busca entabular diálogos que permitam compreender questões presentes na realidade conjuntural contemporânea, sobretudo, na perspectiva dos processos de emancipação face às ideologias, os conservadorismos e a exacerbação reacionária. Interessa-nos, sobretudo, ampliar o horizonte crítico acerca da temática e, ao mesmo tempo, atentar para as controvérsias com as articulações que envolvem estratégias para a supressão de eventuais liberdades individuais ou coletivas alicerçadas por premissas autoritárias e hegemônicas que interferem nos processos de socialização para uma convivência na dimensão da alteridade, equidade, diversidade, pluralidade e democracia. Serão aceitas contribuições que visem aprofundar diálogos que permitam desvelar peculiaridades sociais, culturais e religiosas, em uma apreensão dinâmica, complexa e propositiva ao debate atual”.

GT4: “Ideologias, Conservadorismos e Crise na Democracia Na Sociedade Contemporânea”.

Marcela Davantel Silva, que está iniciando sua pesquisa de iniciação científica, fez sua apresentação sob o título: “Protestantismo e laicidade no Brasil: considerações sobre a atuação da Confederação Evangélica do Brasil (1934-1964)”. O resumo de sua comunicação foi o seguinte:

“A Constituição de 1891 estabeleceu o Estado Laico, redefinindo as relações entre o poder público e as religiões no Brasil. Embora perdendo seu status oficial, o catolicismo manteve uma posição privilegiada devido à sua ampla presença na população, a sua longa história e influência cultural que lhe conferiram uma força social singular. Consequentemente, o catolicismo continua a exercer relevância pública, intervindo em questões políticas e sociais em momentos estratégicos. A separação entre Estado e Igreja, impulsionada pela Questão Religiosa, estreita laços entre protestantes e maçons, promovendo um ambiente favorável à diversidade religiosa. Já no final do século XIX, todas as principais denominações protestantes já estavam estabelecidas no Brasil, isso se deve a diversos fatores específicos da realidade brasileira que o difere de seus vizinhos na América Latina. É na década de 1950, porém, que o protestantismo brasileiro ganha visibilidade pública, buscando maior participação em questões sociais e políticas. Líderes evangélicos como Guaracy Silveira – que inclusive teve uma carreira política ativa, servindo na Câmara Federal – defendiam justiça social e inclusão dos cristãos em sindicatos e partidos populares, desafiando a perspectiva tradicional de cristianismo voltado apenas para a salvação individual. É nesse contexto, que a Confederação Evangélica do Brasil (CEB), fundada em 1934, emerge como um importante organismo, unindo as denominações e formulando uma ética social cristã. Suas ações destacaram-se na busca por diálogo com o governo brasileiro, visando colaborar em questões sociais e educacionais. A CEB estabelece então convênios com autoridades federais, estaduais e municipais, demonstrando compromisso com o bem-estar da sociedade e a defesa de direitos sociais. A confederação, embora tenha enfrentado desafios decorrentes da diversidade de opiniões entre suas denominações membros, se torna um importante canal para a voz evangélica no espaço público, promovendo a participação dos protestantes em debates sobre políticas públicas. Buscando influenciar a legislação e as práticas governamentais, defendendo, por exemplo, a inclusão do Ensino Religioso nas escolas e a justiça social. Esta relação com o governo refletiu uma tentativa dos evangélicos se posicionarem como agentes ativos na construção de um projeto de Brasil. Considerando tal pano de fundo, por meio de uma revisão bibliográfica e análise documental, a presente pesquisa objetiva compreender as reconfigurações do protestantismo no processo de formação de uma laicidade brasileira, investigando, em especial, o papel da CEB como órgão representativo desse protestantismo e suas relações com a vida pública no país.”

O Prof. Dr. Jefferson Zeferino, realizou a comunicação intitulada “A negação da alteridade na história do protestantismo brasileiro (1950-1960): intransigência, repressão e a exclusão do outro como opção teológica”. Este trabalho está em continuidade com as pesquisas realizadas em parceria com a Profa. Dra. Ana Rosa Cloclet da Silva, líder do grupo de pesquisa História das Religiões e Religiosidades. Eis o resumo:

“A Igreja Presbiteriana tem sido uma das principais forças dentro do protestantismo brasileiro desde sua chegada ao país no século XIX. Seus desdobramentos institucionais, posições doutrinárias e práticas eclesiais ajudaram a moldar grande parte do que significava ser protestante, especialmente antes da era do pentecostalismo como uma força hegemônica dentro do campo evangélico brasileiro. Vindos dos Estados Unidos da América, esses missionários trouxeram consigo não apenas a fé cristã, mas um modo específico de ser cristão modelado pelo liberalismo americano, o que se traduziu em uma forte presença eclesiástica e educacional, sendo, inclusive, considerada uma alternativa moderna para as elites brasileiras na educação de seus filhos em um movimento de afastamento das escolas católicas. Ao longo do século XX, o presbiterianismo desenvolveu uma postura ferozmente ortodoxa em sua teologia, o que se combinou com uma perspectiva mais conservadora em termos políticos. Em se pensar a estrutura da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), tal postura se tornou verificável em seus centros de formação, periódicos e relações institucionais com outras igrejas cristãs e com o âmbito político. Entretanto, o presbiterianismo foi balançado a partir de dentro por meio de um consistente movimento de insatisfação com a realidade de injustiça brasileira. Destaca-se, aqui, a organização das juventudes, a ênfase na responsabilidade social assumida pelo movimento ecumênico na década de 1950 e figuras-chave, como M. Richard Shaull e Rubem Alves. Tal impacto, porém, foi fortemente combatido, controlado e desarticulado na década de 1960, momento em que o conservadorismo presbiteriano se alinha com o recrudescimento político representando pela ditadura civil-militar. Considerando tal contextualização e como contributo para os estudos dos discursos intransigentes e excludentes no interior do cristianismo, o objetivo deste estudo é refletir sobre discursos teológicos produzidos pela IPB, tomando como base metodológica a tipologia de modelos teológicos apresentada por David Tracy em “Blessed Rage for Order” em diálogo com a abordagem de Rubem Alves sobre o protestantismo brasileiro como um Protestantismo da Reta Doutrina, em sua obra “Protestantismo e Repressão”. Assim, as teologias autorreferenciais são pensadas à luz da exclusão do outro como elemento discursivo central que denota uma opção teológica de abraçar o poder e não o serviço, e de buscar a manutenção de privilégios ao invés de um engajamento social em favor da melhoria de vida das pessoas mais vulnerabilizadas. Ao negligenciar a alteridade, tal protestantismo não apenas nega a diversidade, mas a combate.”

Comunicação intitulada “Eis o Brasil Presbiteriano: Uma análise da primeira edição do órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (1958)” proferida pela discente, Mariana Rosa Paiva Franciscatto.

A comunicação intitulada “Eis o Brasil Presbiteriano: Uma análise da primeira edição do órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (1958)” foi proferida pela discente, Mariana Rosa Paiva Franciscatto, acadêmica do curso de História, que também está iniciando sua pesquisa de Iniciação Científica. Sua apresentação explorou a primeira edição do jornal Brasil Presbiteriano, veja o resumo:

“Este trabalho analisa a primeira veiculação do Brasil Presbiteriano (BP), principal jornal evangélico do século XX, focando em sua análise documental e discussão de seus discursos. Os objetivos incluem examinar o contexto eclesial e social do Brasil na época, o processo de criação do jornal e a análise de seus temas, atores e conceitos. Entre as décadas de 1950 e 1960, o período entre ditaduras (Estado Novo e o Golpe de 1964), atestava um Brasil moderno, composto de novas práticas e valores culturais, destacando-se os governos de Getúlio Vargas, de seu vice, o protestante Café Filho, e de Juscelino Kubitschek que era declaradamente católico. Esse período marcado pela euforia transformadora do progresso e do social desenvolvimentismo representava uma mudança de época no país. Nesse período de grande efervescência política e social e de conflitos bastante intensos no interior do próprio presbiterianismo, surgiu a iniciativa, inicialmente inserida como plano provisório, de fusão entre “O Puritano” (publicado no Rio de Janeiro) e o “Norte Evangélico” (editado em Pernambuco). Os periódicos não seriam mais publicados isoladamente com o objetivo de alcançar uma publicação que atendesse melhor ao desenvolvimento da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). Já na primeira veiculação, em setembro de 1958, o BP é lançado como órgão oficial da IPB, com a finalidade de fazer circular as causas presbiterianas, unificar os sentimentos e pensamentos de norte a sul do país, tornando-se um paladino da verdade. Destacou-se por celebrar os limiares do Centenário do Presbiterianismo e a 23ª Reunião do Supremo Concílio, onde foi decidida a fusão dos periódicos. Como órgão oficial do presbiterianismo, o BP transmitiu doutrinas, obras missionárias e projetos expansionistas. Paralelamente, também, influenciou significativamente a relação dos fiéis com a vida pública, sendo um balizador de condutas, com estratégias de financiamento e reação a movimentos outros dentro do protestantismo da época. Ao longo de suas veiculações, o periódico passou de uma abordagem mais aberta para uma perspectiva mais ortodoxa. Isso levou a uma “caça às bruxas” dentro da comunidade presbiteriana, buscando intensificar práticas de vigilância e punições. Esta análise examinará como o BP utilizou o discurso de intelectuais para promover suas ideias, bem como sua participação nas disputas teológicas e políticas da época. Desempenhando um papel complexo e influente na vida pública brasileira, utilizando sua plataforma jornalística para promover ideias religiosas, educacionais e políticas. Sua influência se estendeu além da esfera religiosa, contribuindo significativamente para a formatação do pensamento protestante no Brasil durante as décadas de 1950 e 1960.”

“Ecumenismo e Responsabilidade Social na Conferência do Nordeste (1962): Uma leitura de ‘Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro’, de Almir dos Santos” por Bruna da Siva Ricco.

Bruna da Silva Ricco, acadêmica do curso de História, está finalizando um período de pesquisa de Iniciação Científica e iniciando outro. Sua comunicação, intitulada “Ecumenismo e Responsabilidade Social na Conferência do Nordeste (1962): Uma leitura de ‘Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro’, de Almir dos Santos”, teve como base o seguinte resumo:

“Os anos que antecederam o golpe de 1964 foram marcados por uma grande ebulição nos setores econômico, político, cultural e social. Aos observadores pertencentes ao protestantismo ecumênico, a movimentação foi vista com certa preocupação, causando a percepção de um ‘clima revolucionário’, como ocorreu com Almir dos Santos, reverendo da Igreja Metodista, vertente do metodismo que se solidificou na luta social, no combate contra a corrupção e abusos desde a década de 1930. Santos, exerceu a função de presidente do Setor de Responsabilidade Social da Igreja, pertencente a Confederação Evangélica do Brasil, que promovia espaço destinado a discussões sobre a situação que o país atravessava, resultando, em 1962, na IV Reunião de Estudos do Setor: a Conferência do Nordeste. Destaca-se como um dos eventos mais significativos no movimento ecumênico brasileiro, realizado na cidade de Recife, entre os dias 22 e 29 de julho. Ao longo da semana de eventos, figuras religiosas de diversas denominações participaram ativamente das atividades, juntamente com professores, economistas e sociólogos. Por meio de uma análise bibliográfica e documental, elege-se a palestra ‘Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro’, de Almir dos Santos, localizada no conjunto de preleções do evento, organizado por Waldo Cesar, como chave de leitura central para o estudo e compreensão do chamado processo revolucionário. Santos, em sua função central na Comissão Organizadora Nacional, se torna uma das mais importantes lideranças do movimento. O autor propõe uma maior percepção sobre necessidade de uma atuação pública efetiva das igrejas protestantes, perante as questões sociais que afligiam o Brasil, como a injustiça e a fome, observando a necessidade de obediência divina. Santos busca explicar a assim chamada revolução brasileira e sua urgência, diante de um quadro de marcada desassistência da população. Desse modo, a presente pesquisa objetiva compreender os contextos social e eclesial brasileiros entre as décadas de 1950 e 1960 e as relações entre elas; apresentar um panorama da Conferência do Nordeste como um dos principais marcos da história do ecumenismo brasileiro; analisar de modo mais detido as contribuições de Almir dos Santos neste contexto como olhar privilegiado de uma das principais testemunhas desse movimento.”

“Os cristãos e o comunismo: uma leitura da primeira reunião de estudos promovida pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja da Confederação Evangélica do Brasil (1955)” apresentada por Nathalia Almeida Robles.

Também concluindo sua pesquisa de Iniciação Científica, Nathalia Almeida Robles apresentou a comunicação “Os cristãos e o comunismo: uma leitura da primeira reunião de estudos promovida pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja da Confederação Evangélica do Brasil (1955)”. Confira o resumo de sua fala:

“Com a consolidação de relações ecumênicas entre instituições e igrejas protestantes, a Confederação Evangélica do Brasil (CEB) é fundada em 1934 com uma tarefa representativa e que se desdobra em esforços de serviço a sociedade mais ampla e na construção de uma certa posição ética, dentro de um período em que o protestantismo era ainda bastante minoritário se comparado ao catolicismo no país. Na década de 1950 ocorre um relevante direcionamento da CEB para a reflexão acerca da responsabilidade social das igrejas. Inspirados pela Segunda Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas, que acontece em Evanston, nos Estados Unidos, em 1954, um grupo de lideranças religiosas cria, em 1955, a Comissão de Igreja e Sociedade no Brasil, a qual, mais tarde, seria denominada Setor de Responsabilidade Social da Igreja (SRSI), diretamente ligada a CEB. Uma das figuras mais proeminentes desta iniciativa foi Richard Shaull, missionário estadunidense que chegou ao Brasil em 1952. Considerando tal pano de fundo, o presente texto propõe-se a realizar uma leitura aprofundada da primeira reunião de estudos sobre a Responsabilidade Social da Igreja realizada em 1955, cujo temário demonstrou claramente o interesse do protestantismo ecumênico no engajamento com as demandas candentes da sociedade brasileira. Entre as questões refletidas pela reunião de estudos esteve o comunismo, tema controverso que interpelava as igrejas e intelectuais ecumênicos do período. Desse modo, por meio de uma revisão bibliográfica e análise documental, objetiva-se compreender aspectos eclesiais e sociais do Brasil da década de 1950; apresentar, em linhas gerais, os resultados da primeira reunião de estudos promovido pelo departamento de Igreja e Sociedade; e compreender a lógica argumentativa do protestantismo ecumênico da época em relação ao comunismo com apoio no pensamento de Richard Shaull. Como resultado, percebe-se uma recepção crítica do comunismo pelo protestantismo ecumênico, não apenas na direção de um afastamento, mas também como processo de reavaliação de suas estratégias de engajamento público.”

De acordo com as estudantes, o Congresso além de uma experiência enriquecedora por seu conteúdo que explora relações entre religião, educação teológica e deslocamentos contemporâneos, foi também uma oportunidade de discutir e assim enriquecer as pesquisas apresentadas.

Nova publicação sobre teologia pública

Os professores Jefferson Zeferino, da PUC-Campinas, e Rudolf von Sinner, da PUC-PR, lançaram recentemente uma nova obra no campo da teologia, intitulada “Teologia Pública: História, Fundamentos e Perspectivas”.

Dando destaque aos modelos metodológicos emergentes e às raízes históricas da teologia pública, os autores oferecem uma análise profunda e abrangente sobre o papel da teologia no espaço público. Reconhecidos por contribuições significativas para o estudo teológico no Brasil, Zeferino e von Sinner trazem à tona temas como a teologia da libertação, cidadania e secularização, refletindo sobre sua importância no contexto brasileiro.

Além disso, o livro aborda questões éticas fundamentais dentro das tradições religiosas, com especial atenção à perspectiva cristã. Com uma abordagem que vai além da teoria, os autores exploram a aplicação prática da teologia pública, oferecendo insights valiosos para líderes religiosos, acadêmicos e todos os interessados em compreender o papel das igrejas e da fé no espaço público contemporâneo.

“Teologia Pública: História, Fundamentos e Perspectivas” promete ser uma obra indispensável para aqueles que buscam aprofundar seu entendimento sobre os desafios e oportunidades enfrentados pela teologia em um mundo em constante mudança. Este livro lança luz sobre temas emergentes e oferece uma visão atualizada e relevante para o diálogo inter-religioso, o engajamento social e a construção de um futuro mais justo.

A obre pode ser adquirida no site da editora.

PUCPR sedia encontro da Rede Global de Teologia Pública

Após três anos e superando os números alarmantes de casos de COVID-19, a Rede Global de Teologia Pública se reuniu novamente. A sexta Consulta do GNPT acontece na Pontifícia Universidade do Paraná, em Curitiba, Brasil, organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Teologia da Escola de Educação e Humanidades, de 03 a 06 de outubro. O evento que acontece de modo hibrido, reúne 77 pessoas online e 73 no presencial. São teólogos, teólogas e estudiosos das religiões de várias faculdades e universidades dos quatro cantos do mundo, que estão na capital paranaense para pensar a “Teologia Pública em cidades vibrantes: preciosas e precárias”, como indica o tema do evento.

Primeiro dia

Os participantes, antes do início oficial do evento, puderam visitar, na segunda-feira, 5 organizações comunitárias que realizam trabalhos sociais relacionados ao combate à pobreza, racismo e sexismo, além de promover valorização cultural, direitos humanos, políticas públicas, alternativas econômicas e a superação do abuso de álcool e outras drogas. Segundo os organizadores, a visita e os locais foram escolhidos para que os participantes tenham um primeiro contato com as comunidades brasileiras que possam enriquecer e contextualizar suas percepções locais. Como itinerário pedagógico, ver a realidade a partir da qual os brasileiros vivem sua fé, suas lutas e produzem teologia.

Quilombo Restinga, Lapa-PR.
Territórios sociais, São José dos Pinhais-PR.

Além das visitas, o primeiro dia contou com uma Celebração Inter-religiosa com a presença de lideranças católicas, luteranas, umbandistas, judaicas, islâmicas e budistas. A abertura do evento reuniu representantes da universidade: Prof.ª Dra. Maria Cecilia Barreto Amorim Pilla (Coordenadora do Congresso Humanitas), Prof. Dr. Cesar Candiotto (Decano da Faculdade de Educação e Humanidades), Prof. Dr. Rudolf von Sinner (Presidente da GNPT e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Teologia), Ir. Rogério Mateuci (Reitor da Universidade) e D. José Antônio Peruzzo (Arcebispo Metropolitano e Grão-Chanceler da PUCPR).

Celebração Inter-religiosa.
Celebração Inter-religiosa.

Segundo e terceiro dia

As manhãs dos dias 04 e 05 foram dedicadas para as comunicações nos Grupos de Trabalho. Os 130 (72 presencial e 58 online) pesquisadores e estudantes puderam apresentar seus estudos. Foram cerca de 115 trabalhos, que devem serem publicados futuramente.

A professora e arquiteta sudanesa Amira Osman da Universidade de Tecnologia de Tshwane foi a principal palestrante do segundo dia. Osman apresentou “O rio, a cidade e um sonho: imaginários urbanos africanos” falando das cidades africanas como locais de incrível criatividade, que se organizaram e se diversificaram ao redor de espaços e lideranças religiosas, mas para além das narrativas dominantes, encontraremos iniciativas que apontam para um futuro alternativo onde o foco está na descentralização, e nos sistemas locais de inovação, ao invés dos interesses do grande capital. Na África do Sul, a crise de COVID-19 mostrou isso: muitas vezes um centro religioso foi o principal espaço de acolhimento de migrantes, e estes desempenharam um papel vital durante a pandemia. O público pode reagir as colocações de Osman em painel conduzido por Stephan de Beer, e com a colaboração de Katie Day, Murray Rae e Charlene van der Walt. O segundo dia finalizou com o Encontro de Negócios.

Amira Osman e Stephan de Beer.
Encontro de Negócios.

O professor e filósofo irlandês Richard Kearney do Boston College participou de modo online com a palestra “Cidades e Tendas”, a partir do episodio bíblico do encontro de Abraão com os estranhos em Mamre, refletindo sobre as leituras judaicas e cristãs das relações divino-humanas e questionando como uma hermenêutica tão abraâmica de hospedagem se aplica à questão social e política da moradia e dos sem-tetos hoje. Um rico debate se desenvolveu após a reflexão de Kearney, conduzido por Prof. Dr. Jefferson Zeferino, com a colaboração de Pauline Kollontai e Robert Vosloo.

O dia finalizou com um jantar celebrativo de 15 anos da GNPT, onde os pioneiros, como Clive Pearson da Universidade Charles Sturt (Austrália), Nico Koopman da Universidade de Stellenbosch (África do Sul), Sebastian Kim do Seminário Teológico Fuller (USA) e William Storrar do Centro de Inquérito Teológico (USA), puderam partilhar, com a mediação da A prof.ª Esther McIntosh do Centro de Religião na Sociedade (Reino Unido), os desafios e conquistas na construção de uma rede de instituições de ensino e pesquisa realmente global, bem como suas esperanças para os próximo ano.

Palestra de Richard Kearney
Painel com Jefferson Zeferino, Pauline Kollontai e Robert Vosloo.

A reunião terminou esta quinta-feira, o programa incluiu uma última reunião dos Grupos de Trabalho. À tarde, o professor ucraniano Cyril Hovorun, da Universidade de Estocolmo, proferiu a palestra “Sinfonia com a Sociedade Civil”, demonstrando os perigos das relações Igreja-Estado, especialmente desde a recente guerra na Ucrânia. Em vez disso, Hovorun enfatizou uma sinfonia entre a Igreja e a sociedade civil como uma alternativa para evitar o apoio ao autoritarismo. Rudolf von Sinner passou o pano de batik indonésio, símbolo do GNPT, para os anfitriões da próxima Consulta, o Seminário Fuller em Pasadena, EUA.

A última palestra “Ruas, Esquinas, Florestas, Aldeias, Terreiros: Dobrando Teologias Cristãs a Outros Encantamentos” foi ministrada pelo professor brasileiro do Seminário Teológico União, Prof. Cláudio Carvalhaes, que mostrou as intersecções entre o quilombo, a floresta e o terreiro, suas divindades, encantamentos, artefatos litúrgicos sagrados, gestos e saberes, e como eles criam desafios fantásticos às teologias cristãs.

Fuller Seminary receives the Indonesian batik cloth.
Curupira like a Cláudio Carvalhaes.

Na sexta-feira pela manhã, como atividade opcional, os participantes poderão visitar o Memorial Marista e o Museu do Holocausto na manhã de sexta-feira.

Public Theology in the Context of the Religious Dualization Phenomenon in Multiple Modernities

Alfredo Teixeira (CITER-UCP), Alex Villas Boas (CITER-UCP | PUCPR) and Jefferson Zeferino (PUCPR)

Abstract: This article aims to analyze the tasks of public theology concerning the religious phenomenon in a context of multiple modernities. The interaction of religion and public space may take the form of a disjunction between public and private that strengthens the rigid discourse of religious identity against a common project of society. In this context, the place of religion in the public life becomes a significant challenge for public theology. Therefore, in dialogue with the theoretical perspectives of Jürgen Habermas, David Tracy, Michel de Certeau, and Pope Francis, this text proposes a movement towards a complex and interdisciplinary approach that values a shared humanity and responsibility with the common home.

Keywords: public theology; religious dualization; common home; Jürgen Habermas; David Tracy; Michel de Certeau.

Link: Public Theology in the Context of the Religious Dualization Phenomenon in Multiple Modernities in: International Journal of Public Theology Volume 16 Issue 2 (2022) (brill.com)

O humanismo cristão deKarl Barth:uma teologia pública?

Jefferson Zeferino (PUCPR)

Rudolf von Sinner (PUCPR)

Resumo: Karl Barth é reconhecido como um dos mais relevantes teólogos do século XX, contribuindo com obras que impactaram o mundo teológico de seu tempo. Por meio de uma análise bibliográfica, o presente texto faz uma leitura de Barth como um clássico cristão que pode ajudar a pensar a condição humana hoje. Com base em critérios públicos de argumentação, elabora-se um exame de sua proposta de humanismo, considerando-a dentro de sua tradição reformada na relação com Calvino, na escuta atenta de pertinentes comentadores, bem como na análise de fontes primárias. A partir de aspectos de sua antropologia teológica, destaca-se um humanismo cristão que pensa o humano em sua co-humanidade e suas relações desde uma ética de gratuidade e responsabilidade. Neste sentido argumentamos que Barth pode ser compreendido como teólogo público.

Palavras-chave: Karl Barth, Teologia Pública, Humanismo Cristão, Co-humanidade, Ética da Graça.

Texto completo aqui.

Jefferson Zeferino, PUCPR: Doutor em Teologia. Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná por meio do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES).

Rudolf von Sinner, PUCPR: Doutor e Livre-Docente em Teologia. Professor do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A liberdade religiosa em pauta

Resumo: Diante da crescente relevância social das igrejas evangélicas e pentecostais tanto demográfica quanto politicamente, faz-se necessário observar sua atuação legislativa, onde a temática da liberdade religiosa mostra-se recorrente. Por meio de uma análise bibliográfica, analisa-se o PL 6238/2019 e sua árvore de projetos apensados, detectando uma ênfase na questão da liberdade de manifestação, expressão e discurso religiosos. Como resultado, questiona-se a pertinência jurídica dos projetos e sua possível ineficiência no que diz respeito ao tema que abarcam. Identificaram-se: (i) um certo receio de punição em relação às questões acerca da sexualidade, elemento explícito em algumas propostas e implícito em outras, como quando se utilizam de expressões que fazem referência a certos comportamentos sociais; (ii) o uso de uma linguagem teológica cristã; (iii) um pano de fundo teológico-político exclusivista-autoritário; (iv) pluralidade da origem dos proponentes tanto partidária quanto regional; (v) uma constância na filiação religiosa dos proponentes a grupos pentecostais.

Palavras-chave: PL 6238/2019, Liberdade Religiosa, Pentecostais.

Jefferson Zeferino, Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná por meio do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES). Doutor em Teologia. Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná por meio do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES).

Eduardo Soncini Miranda, UNICAMP Doutor em Ciência Política pela UFPR. Executa pesquisa de pós-doutorado em Educação na UNICAMP.

Texto completo aqui.

Pandemic Religion in Brazil—Temptation and Responsibility

Rudolf von Sinner (PUCPR)
Jefferson Zeferino (PUCPR)

Religious incidence in Brazilian public space is a widespread fact that has been gaining new visibility in pandemic times. Responsibility in liminal situations represents specific theological hermeneutics, as well as what matters for the respective religious agents. Thus, based on a bibliographical review connected to an analysis of websites, this article aims to reflect on the current Brazilian context, the challenges to doing theology in Brazil today and points to some possible responses. “Pandemic religion”, as we call it, is the synthesis of theologies and religious practices that legitimise irresponsible approaches to life, vulnerabilising the other instead of assuming care-based ethics. Firstly, we briefly describe current theological trends, followed by an analysis of the Brazilian scenario by way of three representative scenes of public religious incidence that reflect a lack of responsibility in view of the pandemic challenges caused by COVID-19. Subsequently, we look back into history for alternative responses to public health crises that required theological positioning. In a Brazilian perspective of a public theology, we finally reflect on a responsible ethics that may help respond to the current challenges, particularly for pandemic religion.

Keywords: .

Ver artigo: https://www.mdpi.com/2077-1444/13/1/58/htm

Jefferson Zeferino discute suas pesquisas com grupo da FUV

No próximo dia 28, quarta-feira, Jefferson Zeferino participará do Encontro Cátedra Online da Faculdade Unida de Vitória (FUV). Com o tema Cidadania e Teologia Pública: estado da discussão e enfoque na criticidade, o teólogo da PUCPR irá compartilhar alguns apontamentos de suas pesquisas sobre Teologia Pública. O evento acontecerá por vídeo conferência e é aberta ao público. O link será disponibilizado pela organização.

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