O que é teologia pública? Perguntamos a Rudolf von Sinner. Ele nos dirá que há muitas definições. Mesmo assim, os teólogos públicos podem se reunir e se concentrar em questões importantes que confrontam a esfera pública.
O teólogo brasileiro Rudolf von Sinner preside o Comitê Executivo da Rede Global de Teologia Pública (GNPT). Atualmente, o GNPT lançou uma chamada de artigos para sua próxima 6ª conferência internacional, de 3 a 6 de outubro de 2022, sobre “Teologias Públicas em Cidades Vibrantes: Preciosas e Precárias”, em Curitiba, Brasil.
Texto original publicano em Patheos.com por Ted Peters.
Nesta série Patheos estamos perguntando: o que é teologia pública? Entrevistamos vários teólogos públicos conscienciosos que são apaixonados pelo bem comum. Conheça Katie Day, Binoy Jacob, Robert Benne, Noreen Herzfeld, Paul Chung, Kang Phee Seng, Mwaambi Gideon Mbûûi e Karen Bloomquist. Nossa noção de trabalho tem sido esta: a teologia pública é concebida na igreja, aperfeiçoada criticamente na academia e entrelaçada com o mundo em prol do bem comum do mundo.
Como você e a Rede Global de Teologia Pública definem “Teologia Pública”?
RUDOLF VON SINNER: Não há uma única definição de teologia pública em sua definição conceitual e contextual. Tem havido bastante discussão sobre isso. Perguntando: “o que é teologia pública?” ocupou os primeiros números do International Journal of Public Theology, periódico fundado por e em conjunto com a Rede Global de Teologia Pública (GNPT) em 2007.
Na verdade, é uma discussão contínua. Portanto, sempre falo de “uma” e não de “a” teologia pública. O que, de alguma forma, todos compartilhamos entre aqueles que usam o termo é uma preocupação com o papel e o lugar da religião e da teologia na esfera pública. Entendemos a esfera pública como o espaço em que a opinião e a posição pública são formadas e debatidas, nomeadamente através de organizações da sociedade civil, entre elas as igrejas cristãs.
Eu mesmo foco na teologia pública como teologia da cidadania no Brasil. Eu entendo a cidadania não restrita a uma nação, a um país específico. Pelo contrário, um cidadão tem direito e consciência de direitos e deveres, bem como acesso efetivo ao reconhecimento, proteção, saúde, educação, lazer e afins de acordo com tais direitos humanos e fundamentais. A cidadania é, portanto, um conceito inclusivo e não exclusivo.
A teologia pública também analisa criticamente a presença factual das religiões, principalmente das igrejas cristãs, em esferas públicas específicas. O teólogo público discute a relevância de tal presença e orienta construtivamente tanto as igrejas quanto as autoridades estatais sobre tal presença. O teólogo público oferece contribuição (e não imposição) de dentro da sociedade civil, estando em constante diálogo com outras religiões, outras associações da sociedade civil e a academia. Como recursos, o teólogo público colhe tanto a Escritura quanto sua tradição e interpretação ao longo dos séculos e uma interpretação interdisciplinar da sociedade contemporânea em um contexto global.
Curitiba, 3 a 6 de outubro de 2022. O que a Rede Global de Teologia Pública realizará?
RUDOLF VON SINNER. A conferência de Curitiba tem como tema principal “Teologias Públicas em Cidades Vibrantes: Preciosas e Precárias”. Conforme declarado no site da Rede Global de Teologia Pública, a lógica por trás do tema é que “As cidades vibram, brilham, ressoam”. São vibrantes, dizem as brochuras turísticas – animadas, ou seja, interessantes para quem procura boa comida, vida noturna e entretenimento. Mas muito mais do que isso, a vida pública está vibrando. O que essas vibrações significam? Que tipo de vibrações estamos sentindo? A quais estamos sistematicamente fechando nossos sentidos?
As cidades são preciosas e precárias. Eles representam o precioso: criatividade, mobilidade, som, cor, construção, organização, interação. Mas eles também apresentam o precário: pobreza, engarrafamentos, barulho, poluição, destruição, caos, exclusão. Uma diversidade de públicos, de interesses, de crenças, de necessidades, de anseios e pertencimentos emerge das cidades.
Assim, ao ampliar nossa compreensão sobre públicos e teologias, ao apreciar a preciosidade e descobrir a precariedade, ao perceber que há preciosidade no que se considera precário e que há precariedade no que se considera precioso, acreditamos que pode haver uma análise mais completa das ambiguidades das cidades e o papel crítico e construtivo que a teologia pública pode desempenhar neste contexto.
Pela primeira vez, esta 6ª Consulta do GNPT trabalha com 14 Grupos de Trabalho aprovados pelo Executivo, ao abrigo de um dos quais um documento pode ser submetido para apresentação na Consulta. Entre eles estão grupos que abordam migração, cidades na Ásia, habitação acessível e sustentável, educação teológica em cidades futuras, gênero e sexualidade, ecologia, digitalidade, Dietrich Bonhoeffer, teologias políticas e públicas e assim por diante (para uma lista completa com nomes e afiliações dos coordenadores e uma breve descrição ver o site mencionado).
A Chamada de Trabalhos e Inscrições
RUDOLF VON SINNER. A Chamada de Trabalhos está aberta até 01 de março de 2022. Uma proposta pode ser enviada (aqui) de acordo com as normas estabelecidas na Chamada de Trabalhos por e-mail para gnpt2022@pucpr.br. Cada submissão será então avaliada pelos respectivos coordenadores do Grupo de Trabalho e uma decisão e/ou considerações serão enviadas ao candidato até 20 de março de 2022.
As inscrições abrem no dia 01 de abril, online, quando a taxa de conferência de EUR 150,00 (R$ 150,00 ou equivalente para latino-americanos) deve ser paga para confirmar a inscrição. Estamos cientes de que, embora para alguns seja uma quantia bastante razoável, em muitas partes do mundo é uma quantia alta; o solicitante poderá, assim, sinalizar quanto pode pagar e isso será analisado e decidido pelo Executivo. A Consulta será realizada no Campus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná em Curitiba e será transmitida apenas para os inscritos que desejarem participar remotamente. Trata-se, portanto, de um formato de conferência híbrido. Para qualquer dúvida, entre em contato com gnpt2022@pucpr.br . Bem vinda!
Conclusão
TED PETERS DE NOVO. O teólogo público não pode deixar de jogar vôlei conceitual. De um lado da rede está a globalização. Do outro lado da rede está a contextualização. Em 1979, a World Future Society cunhou a frase operativa “pense globalmente, aja localmente”. Von Sinner pensa na vibração das cidades ao redor do mundo. No entanto, ele também reconhece essa avaliação e ação local e contextual. teólogo público de Princeton, o falecido Max L. Stackhouse, tentou formular a preocupação.
“A globalização, entendida em seus significados mais complexos, poderia ser “para o bem” – tanto duradoura quanto para o bem-estar humano. Poderia promover uma civilização global altamente pluralista com maior perspectiva de paz com justiça. Em última análise, no entanto, é improvável que isso aconteça a menos que encontre seu foco em Cristo como Senhor, pois Cristo é aquele que tem e pode sempre renovar a aliança entre Deus e a humanidade e apontar as almas para a reconciliação com Deus e o próximo, e as sociedades covardes uma Nova Jerusalém.”
Agora, prefiro o termo, planetização, ao invés de globalização. Mas, isso não vem ao caso.
Acredito que a visão do bem comum do teólogo público inclui o princípio da subsidiariedade. O bem do indivíduo e o bem do contexto local devem permanecer em interação dialética com o bem comum geral. Vemos essa dialética na obra de Rudolf von Sinner e lhe agradecemos por isso.