A Revista Estudo Teológicos da Faculdades EST apresenta Dossiê Teologia, Ciências das Religiões e a Pandemia da COVID-19. Neste segundo número de 2020, organizado por Glauco Barsalini, Claudete Beise Ulrich, Wilhelm Wachholz, Marcelo Saldanha, Júlio Cézar Adam, há artigos de Marcio Luiz Fernandes, Jefferson Zeferino, Douglas Ferreira Barros, Ivo dos Santos Canabarro, Bianca Strücker, Noli Bernardo Hahn, Celso Gabatz, Rosângela Angelin, Claudete Beise Ulrich, Nivia Ivette Núñez de la Paz, Marga Janete Ströher e Euler Renato Westphal. Confira abaixo os resumos e links para os textos completos.
“OS MURAIS ABERTOS” NA AMÉRICA LATINA: REFLEXÕES SOBRE TEOLOGIA E ARTE NA OBRA DE MINO CEREZO BARREDO
Marcio Luiz Fernandes, Jefferson Zeferino
RESUMO
A obra mural de Mino Cerezo Barredo constitui um patrimônio iconográfico de imenso valor, porque, além de mostrar a centralidade do mistério pascal de Cristo, coloca- -nos diante dos reais problemas e do rosto dos homens e das mulheres do continente latino- -americano. A análise fenomenológica dos murais, por exemplo, evidencia a forma como o artista soube captar a centralidade do momento hilético para a sensibilidade dos povos latino-americanos e, por conseguinte, a função da arte sacra de projetar a manifestação da beleza de Deus. Há, nos murais, uma linguagem sobre Deus a partir da situação de opressão e, assim, pode-se descobrir não só o rosto de Cristo sofredor nos rostos dos crucificados da história, mas também uma mística na qual o dom do Reino revelado na vida, morte e ressurreição de Jesus exprime-se na comunidade cristã por meio do martírio. Os murais apresentam, portanto, uma teologia em imagens, e as paredes das igrejas tornam-se espaço e lugar do anúncio do evangelho do Reino.
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REALIDADES DO MAL: OBSERVAR A PANDEMIA PELO DESAMPARO, O SOFRIMENTO INTENCIONAL E A NEGLIGÊNCIA DA MORTE
Douglas Ferreira Barros
RESUMO
O objetivo do artigo é pensar o mal em sua relação com a morte e o desaparecimento. Partimos do estudo de Paul Ricoeur que toma o mal como desafi o à fi losofi a e à teologia. Propomos destacar a relação entre alguns aspectos que envolvem a compreensão ricoeuriana do mal e o posicionamento discursivo público de autoridades governamentais do Brasil acerca dos mortos pela pandemia de Covid-19 ou coronavírus. Nossa análise mostra como a múltipla compreensão ricoeuriana acerca do mal – tanto em sua acepção teológica como naquela fi losófi ca – nos dá elementos para uma avaliação do posicionamento discursivo dessas autoridades em relação à morte e aos mortos pela doença na pandemia. Tomaremos como objeto da análise as declarações de autoridades governamentais publicadas em diferentes meios – jornais, portais de notícias, principalmente. Como método de trabalho, observaremos, em paralelo à qualifi cação ricoeuriana do mal, o posicionamento discursivo de tais autoridades públicas acerca da morte e dos mortos. Pretendemos mostrar na conclusão que a luta contra o mal pressupõe, tanto em termos fi losófi cos como teológicos, a atuação ética e política contra a violência, o desamparo e a negligência à vida humana.
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A HISTÓRIA DO MEDO REVISITADA: ÉTICA DA ALTERIDADE FRENTE À COVID-19 COMO UMA PANDEMIA DO SÉCULO XXI
Ivo dos Santos Canabarro, Bianca Strücker, Noli Bernardo Hahn
RESUMO
O artigo tem como tema central discutir como uma pandemia do século XXI, a Covid-19, conseguiu trazer ao tempo presente as novas representações do medo da morte e o papel da alteridade no cuidado com a coletividade. Discute-se, com aportes teóricos, como a construção do medo da morte é uma permanência dos tempos passados das pestes e epidemias. A pergunta norteadora é: como enfrentar o medo da morte diante da pandemia do novo coronavírus? A hipótese apresentada direciona para a ética da alteridade, do cuidado com o Outro. Para alcançar os objetivos, divide-se o artigo em duas sessões: a primeira revisita as representações imaginárias sobre a morte e o medo da finitude da vida frente à pandemia. A segunda sessão é direcionada à discussão sobre a importância das relações de alteridade e respeito com a vida do Outro. A reflexão mescla, em termos metodológicos, as abordagens histórico-analítica e complexo-paradoxal.
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PONDERAÇÕES CRÍTICAS ACERCA DA COVID-19: CONTRIBUIÇÕES PARA AMPLIAR O ENTENDIMENTO NO CONTEXTO BRASILEIRO
Celso Gabatz, Rosângela Angelin
RESUMO
Em tempos de Covid-19, vivemos a condição, nunca experimentada, do isolamento social. Ficar distante para, paradoxalmente, nos protegermos como grupo social. De certa forma, não é equivocado dizer que estar longe é um ato de cuidado e afeto. A pandemia vem nos desafi ando nessa difícil experiência de lidar com o medo e, por extensão, também exacerbando esse inevitável entendimento de que temos que sobreviver a despeito da difícil experiência que vislumbramos à nossa volta. É um tempo que nos obriga a desenvolver uma grande disciplina mental, suscitando novas competências sociais. O objetivo desta abordagem é, pois, contribuir para ampliar o horizonte crítico e compreensivo sobre as possíveis alternativas que possam (de)limitar uma perspectiva de bem comum. Interessa- -nos compreender como a pandemia vem repercutindo no cenário brasileiro a partir de determinados valores religiosos instrumentalizados pelos agentes da governança pública em seus discursos, decisões e liturgias. Afi nal, a Covid-19, inexoravelmente, tem dado espaço a falsos profetas, de modo a contaminar os meandros da ação política, provocando o devaneio e o mal-estar na confi rmação de um de nossos maiores paradoxos: a dolorosa desigualdade social.
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MULHERES EM TEMPOS DE PANDEMIA: A COTIDIANIDADE, A ECONOMIA DO CUIDADO E O GRITO UTERINO!
Claudete Beise Ulrich, Nivia Ivette Núñez de la Paz, Marga Janete Ströher
RESUMO
O presente artigo reflete sobre a realidade das mulheres em tempos de pandemia. A problemática que envolve o presente trabalho parte da pergunta: como tem sido a experiência das mulheres na pandemia do coronavírus (Covid-19), devido ao acúmulo dos cuidados como tarefa feminina e o grito uterino que vem dessa situação? Para responder a essa questão, buscamos referências da teologia feminista, que parte do princípio da experiência das mulheres para a análise da realidade e a reflexão teológica e que coloca a vida mesma em sua amplitude como critério hermenêutico. A metodologia utilizada é bibliográfica, a partir de artigos de revistas, entrevistas e livros. Além do mais, somos três mulheres, profissionais, afetadas também pelo home office que se mistura com o trabalho da casa e a necessidade de uma nova organização. O processo de ensino aprendizagem da pandemia tem sido cruel e tem afetado, especialmente, a vida das mulheres. A casa, que deveria ser um lugar seguro, apresenta-se para muitas como um lugar de perigo constante. Muitos trabalhos de cuidado remunerados ou não são realizados pelas mulheres. Historicamente o cuidado tem sido delegado às mulheres, sendo, por um lado, exaltado como parte do ser/fazer feminino (mãe e dona da casa) e, por outro lado, é um trabalho não remunerado ou mal remunerado (enfermeiras, assistentes sociais). Apresenta-se o artigo em três partes: a experiência das mulheres, a necessidade de reinventar a economia do cuidado e o grito uterino que ecoa com justa indignação. Evidencia-se que a pandemia visibilizou questões preexistentes: o aumento do cuidado sob os ombros das mulheres seja em casa ou nas diferentes profissões em que as mulheres estão na linha de frente, a violência contra as mulheres. A pandemia acentua a desigualdade social, racial e de gênero da sociedade brasileira, sendo que as mais atingidas são mulheres pobres, negras, pardas, idosas e com deficiência. O grito que nasce do feminismo clama por uma reinvenção do mundo que habitamos.
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“QUEM MERECE VIVER E QUEM MERECE MORRER”: DILEMAS ÉTICOS EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19
Euler Renato Westphal
RESUMO
A medicina contemporânea, que é determinada pela tecnologia, negligenciou a possibilidade da morte dos pacientes. Dessa forma, a morte é protelada por meio de terapias invasivas, que não permitem a pessoa em estado terminal morrer. A busca frenética da ciência médica por tecnologias avançadas foi interrompida por um microrganismo, o SARS-CoV-2. Percebeu-se na pandemia que uma medicina voltada para a tecnologia é pouco eficaz se questões como saúde pública, higiene e meio ambiente não forem sufi cientemente contempladas. No contexto da Covid-19, dilemas éticos se tornam especialmente relevantes diante do avanço da doença, da escassez e do esgotamento dos recursos médicos. Em meio ao desenvolvimento da pandemia, no processo de triagem de pacientes da Covid-19, a pergunta “quem merece viver e quem merece morrer?” torna-se dramaticamente atual. Este artigo tem como objetivo destacar aspectos fundamentais entre a esperança de uma medicina moldada pelo poder tecnológico e a realidade dos conflitos médicos em tempos de pandemia. A partir da teologia luterana, busca-se entender o sentido e a esperança para além da morte, prometida e frustrada pela escatologia tecnológica.
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